sábado, 13 de junho de 2009

Sunbeam

Acordo com as batidas na porta. 6am. Os primeiros raios adentram a janela. Parece agradável. Abro a porta e só então percebo que a música continua rolando. A mesma música de quando fui dormir. "Now it's time for changing and cleansing everything..." diz o Matthew. Como adoro aquela voz.
Marvin me fez acordar mais cedo. Disse que tinha uma surpresa antes das nove. Sábado é dia do club da árvore. Desde os onze anos nos reunimos pontualmente nesse horário. A idéia surgiu no colegial, quando começaram a discutir nas salas de aula a preocupação com o meio ambiente, o futuro. Eram engraçadas as reuniões de quintal, as camisetas sujas de barro, o bolo de laranja, a coca-cola da garrafa de vidro. Daí veio o tempo e mudou tudo. Poly liga para dizer que não vem, talvez James apareça. É estranho ver as pessoas se perdendo em seus afazeres. Às vezes me pergunto em quais momentos eu também faço isso e sinto falta, muita falta de ver as coisas com olhar de criança. Daquelas que brincam de 'sete-cacos', não essas que desperdiçam a infância com Playstation e games de PC. A inclusão digital não é tão boa assim.
Marvin me arrasta para o quintal que tem duas bicicletas, uma roxa com cestinha. A Florisbela me olha estranho. Essa imagem me remete a um tempo muito bom, onde as coisas eram mais 'inocentes'. Onde a infância se resumia a pitombeiras e tombos de bicicleta. Pegamos uma ruela estreita perto da delicatessen. O cheiro é maravilhoso. Apostamos capuccinos, corremos como se fossem as ultimas magrelas do mundo. Paramos em um parque infantil perto da antiga escola, há algumas crianças empinando pipas e escorregando, um garotinho abraçando a mãe com o cabelo balançando no vento. Sentamos na grama bem aparada, do outro lado, em um banco de cimento, desses doados por estabelecimentos comerciais, políticos em época de campanha, vejo as as mãos do jardineiro eficiente. Posso sentir nos seus olhos a sensação de dever cumprido. Ninguém mais percebe. Do lado tem uma Tabebuia spongiosa que plantamos há uns oito anos. Marvin escreve nossos nomes seguido da inscrição 'a long long time ago..." Lembro do final do livro de Vikas Swarup. Me afeta completamente. Talvez por que não seja 'apenas' ficção. Em algum lugar aquelas coisas acontecem de verdade. Lembro do menino Shanka. E me recuso a crer que a vida seja apenas isto. Tiro algumas fotos, da ávore rabiscada, do jardineiro de olhar bonito, da moça do abraço quentinho.
Na volta quando passamos em frente ao banco têm alguns policiais batendo em um rapaz com um cassetete. Parece que ele furtou uma bolsa. Os gritos são ensurdecedores. Minha mãe disse ter visto a mesma cena na semana passada. "E eles nem tinham certeza do que estavam fazendo," ela disse. Fico puta com esse tipo de injustiça. Lembro de um trecho do mesmo livro. "A literatura está tão distante de Dharavi, como a honestidade da polícia." Iniciamos nossa volta para casa calados. Passamos por mais alguns bancos de cimento. Penso nos políticos e em suas promessas vazias. Me dá ansia.
Os fatos costumam ter um efeito forte sobre algumas pessoas. O sol parece seguir-nos. De repente esse resgate todo do Marvin vem a mim como uma mensagem. A mesma mensagem de que as coisas estão muito erradas. Mas disso todo mundo está absurdamente cansado de saber.
Algumas pessoas caminham rapidamente na mesma calçada, indo para o trabalho, outros levam seus filhos para o colégio, posso ver as expressões acusadoras na face de cada imagem que se segue a cada pedalada, mas no fundo ninguém se preocupa em tentar entender onde se encontra o verdadeiro erro. Afinal de contas, o que é um ser humano? Apenas uma formiga.

11 comentários:

Unknown disse...

Bella, I'm your sunbeam.

Como sempre um belo texto.
Maria Louca.

Anônimo disse...

Adorei o post.
Saudades de vc, menina.
Some assim, não. Acabaram as provas já? Diz que sim!
E obrigada pelos parabéns, viu?
Linda semana pra vc.
E um beijo com gosto de Edward!
rsrsrs

Pudim disse...

Por algum motivo, lembrei-me do discurso do terrorista V, em V de Vingança.

Ótimo texto, sempre tantas reflexões. Pensar é muito bom. Transformar os pensamentos em ação, ainda melhor.

Parabéns.

Unknown disse...

Hey u...

Comprei o livro de capa verde que vc fala ai em cima. Lembro mesmo de já ter lhe visto com um na facul...
Tais vendo como inspira as pessoas a fazer coisas boas.

Sua Bella...

Germano Viana Xavier disse...

E a Florisbela está em quase todas... Amiga de verdade é assim mesmo...

E eu nem me arisco a responder a pergunta do desfecho.

Um carinho, Josy.
Sigamos...

~*Rebeca*~ disse...

Josy,

O tempo fica até aliado quando é aproveitado com amor...

O que é um ser humano? aiai... cada um sabe de si, né?

Beijo grande, menina linda.

Rebeca

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A Madrasta Má disse...

Olá minha querida, passando para te agradecer o carinho e te desejar uma excelente semana! Bjinhos da Madrasta!

~*Rebeca*~ disse...

Queridos amigos,



Vocês que acompanham esse blog, sabem o grau de sedução que o amor faz, quando quer conquistar. É com muito carinho que oferecemos esse selo de comemoração. Fazer aniversário só é gostoso, quando temos amigos que prestigiam nossa festa.



Beijos jogados no coração de cada um de vocês.



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Daniel Rolando disse...

somos uma formiga, sim, mas acho que há algo além!

somos parte de algo maior, planos maiores, e cada pessoa tem sua própria personalidade, diferenças.

o legal e misterioso da vida é a nossa finalidade...
pra mim, nossa maior função é ajudar a tocar esse grande formigueiro, que não é nada ruim!

Daniel Rolando disse...

e ah, como sempre, belíssimo texto!

Anônimo disse...

Volta logo meninaaaaaaaaaaaa!